Contribuíram: Margarida Gorecki Zanelato & Andrea Castro
O desemprego foi considerado o maior desafio para os brasileiros mais jovens segundo uma pesquisa recente realizada pela Deloitte. Estas impressões tem fundamento: historicamente, são eles o grupo mais afetado no Brasil. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos quase 14 milhões de desempregados no quarto trimestre de 2020, cerca de 29,8% eram pessoas na faixa-etária entre 18 e 24 anos de idade, e 42,7% na faixa-etária entre 14 e 17 anos.
Os motivos que levam a índices tão elevados são distintos, tais como a crise econômica, desigualdade social, informalidade ou falta de qualificação. Em momentos de crise, como a pandemia do coronavírus – eles tornam-se os mais vulneráveis, já que possuem menos experiências e baixa qualificação. Portanto, torna-se fundamental apoiar o jovem, tanto a finalizar os seus estudos como a entrar no mercado de trabalho e se qualificar.
Um dos caminhos para isso é investir em projetos ou negócios sociais que empoderem comunidades a acessarem oportunidades profissionais de qualidade. Surge assim o conceito de inclusão produtiva que pode ser definida como "a geração de trabalho e renda de maneira estável e decente para as populações em situação de pobreza e/ou vulnerabilidade social, de modo a facilitar a superação de processos crônicos de exclusão social". (Fundação Arymax, 2019)
As intervenções de capacitação da força de trabalho são a abordagem mais comum entre as instituições de educação. Os programas costumam ser cursos fora da educação regular que visam desenvolver diferentes tipos de habilidade, desde aspectos técnicos e conteúdos mais gerais, como alfabetização e matemática, até competências socioemocionais. Isoladamente, o impacto de tais intervenções pode ser bastante limitado caso as experiências educacionais não se relacionem com a vida prática, com o mercado de trabalho, ou seja, caso não exista um elo entre o esforço de formação e os planos de recrutamento das empresas que buscam novos funcionários.
Um estudo da NESsT de 2019 sobre essa questão revelou que, embora ONGs ou negócios sociais de empregabilidade estejam muito focados no desafio de jovens em situações de pobreza e vulnerabilidade em acessarem e manterem bons empregos, as empresas que os contratam nem sempre entendem o valor agregado desses programas. Assim, as iniciativas de empregabilidade muitas vezes não são vistas como oportunidades estratégicas de longo prazo pelos contratantes, mas como filantropia, responsabilidade social, ou cumprimento de cotas.
“O programa NESsT Empowers visa diminuir essa desconexão conceitual existente entre programas de emprego e as empresas. Podemos construir programas que garantam que os contratantes estejam preparados para integrar efetivamente os jovens previamente excluídos, de forma a vivenciar e colher os frutos de se ter um ambiente de trabalho diverso, equilibrado e inclusivo. Sabemos que times mais diversos são também mais produtivos, inovadores, lucrativos, resilientes, enxergam desafios de diferentes ângulos, têm uma vantagem competitiva sobre seus concorrentes, são mais felizes e mais recompensados”, diz Renata Truzzi, diretora da NESsT no Brasil.
Expandindo soluções para a empregabilidade
O Instituto Aliança com quase 20 anos de atuação, possui vasta experiência na área de empregabilidade e atua em diversos estados do país. Entre outras ações, o Instituto fornece para jovens de baixa renda cursos de capacitação com 300 horas de duração. Após o curso, a organização ainda trabalha com a inserção do jovem no mercado de trabalho em empregos dignos (com carteira assinada e chances de crescimento), tendo parceria com empresas em diversos setores como varejo, hotelaria, entre outros.
Desde sua criação em 2002, o Instituto formou mais de dez mil jovens, dos quais oito mil tiveram a primeira experiência profissional na sequência. Apesar dos ótimos números, Solange Leite, Coordenadora Nacional de Inserção da organização, ressalta que o trabalho poderia envolver mais empresas e pessoas, expandindo assim o impacto para além das primeiras colocações no mercado: “O jovem, mesmo após conseguir o seu emprego inicial, precisa ainda de monitoramento e apoio para a sua permanência e ascensão, e também para a obtenção de seu segundo e terceiro trabalhos.”
Pensando nisso, a equipe decidiu desenvolver uma plataforma digital, que facilitaria para as empresas o recrutamento e seleção dos jovens que passaram pela formação, e o monitoramento e apoio ao jovem contratado ao longo de sua carreira. Surgiu assim o Instituto Aliança Emprego (IAÊ), uma unidade de negócios dentro Instituto Aliança, com o apoio NESsT e da Fundação Arymax. Ao longo dos últimos dois anos, as organizações fizeram um investimento financeiro híbrido e forneceram apoio não-financeiro ao IAÊ, como mentoria, estudos e mapeamento de mercado, definição e melhorias no plano de negócios, apoio ao desenvolvimento tecnológico e criação de novas parcerias.
Agora, com a plataforma já em fase de testes, o IAÊ está pronto para colher os frutos deste trabalho.
Estão curiosos para saber como foi a trajetória do IAÊ, seus desafios e resultados? Acompanhem-nos em nossa série “Negócios Sociais e Empregos Dignos”! Iremos compartilhar mais detalhes sobre nossa parceria e os aprendizados ao longo do caminho.
Visão geral da plataforma. Imagem cedida pelo Instituto Aliança Emprego.
Este é o primeiro artigo da nossa série “Negócios Sociais e Empregos Dignos”. Ao longo dos próximos meses, iremos compartilhar o estudo de caso do Instituto Aliança Empregos (IAE), uma unidade de negócios criada dentro da ONG Instituto Aliança, com o apoio da NESsT e da Fundação Arymax, com o objetivo de inspirar o fomento de soluções inovadoras de geração de emprego e renda dignos, beneficiando sobretudo os jovens em situação de vulnerabilidade.